As leituras propostas para este domingo na liturgia são incisivas e provocativas. Em meio a uma sociedade cega pelo ódio e pelo medo, a mensagem que nos é dada pela Palavra de Deus não poderia ser mais clara e precisa. É necessário que sejamos luz para este mundo e, para fazer isto, o homem novo, renascido em Cristo, precisa agir de um modo diferente.

A leitura do livro do profeta Isaías (Is 58, 7-10) indica as atitudes que farão com que nossa luz “brilhe como a aurora“. No início desta passagem, três verbos se destacam: repartir, acolher e encontrar. “Reparte o pão com o faminto“, pois em cada ser humano que sofre sem ter meios para sobreviver está Cristo agonizando, ao mesmo tempo em que nos matamos por bens supérfluos. “Acolhe em casa os pobres e peregrinos“, pois somos todos irmãos, agraciados pela dignidade de ser imagem e semelhança de Deus, o qual não faz distinção entre judeu ou grego, pobre ou rico, europeu ou árabe. “Quando encontrares um nu, cobre-o“, pois o próximo que encontramos pelo caminho não é um inimigo, mas aquele a quem somos chamados a amar.

No Salmo (Sl 111), as virtudes do homem novo, que ilumina o mundo com seus gestos cotidianos , são cantadas em poesia. Ele é generoso, compassivo, caridoso, prestativo, manso e confiante . Estas virtudes pertencem ao próprio Deus, reveladas a nós, em perfeição, na vida de Jesus Cristo. Estas devem ser as atitudes que devemos almejar e perseguir, e não aquelas que nos são sugeridas pelos homens deste tempo: a avareza, a soberba, o egoísmo, a desesperança, o medo e a violência.

É evidente que este homem novo que o Senhor deseja não pode nascer em nós sem a ação do Espírito Santo. Assim nos lembra São Paulo (ICor 2,1-5), ao destacar que toda sua vida apostólica é “uma demonstração do poder do Espírito“, que concretiza em nós a obra desejada pelo Pai, apesar de sermos seres “com fraqueza e receio, e muito tremor“. É uma grande alegria contemplar, de um lado, aquilo que somos hoje, de outro lado, aquilo em que o Senhor deseja transformar-nos, com a certeza de que sua a graça é capaz de nos tornar pessoas novas, livres e dispostas ao verdadeiro amor.

Por fim, a imagem utilizada por Jesus completa a pedagogia da liturgia deste domingo: o sal e a luz (Mt 5, 13-16). Ao ser misturado na comida, o sal não é visível, mas sem ele nada tem sabor. Em uma sala iluminada, quase não percebemos a importância da luz, mas basta que ela se apague para que todos comecem a procurá-la. Assim deve ser a ação do cristão no mundo. Na vivência do ordinário, do cotidiano, da labuta diária, onde quase ninguém dá atenção, colocar em cada pequeno gesto um pouco de sal e de luz, para dar sabor e alegria à vida neste mundo, que é a ante-sala para a vida eterna com Cristo.

Ao contemplar, através da Palavra de Deus, a nossa vocação cristã mais fundamental, rezemos como na antiga tradição franciscana: “Senhor, fazei-me instrumentos de vossa paz! Onde houver ódio, que eu leve o amor. Onde houver trevas, que eu leva a luz”.

Virgem Santíssima, Rainha da Paz, dai-nos a Paz.