1º Domingo da Quaresma – Um itinerário batismal

Em preparação para as solenidades pascais, somos convidados a revigorar em nós a graça santificante do Batismo.

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A Tradição católica sempre encontrou no tempo quaresmal um ambiente propício para uma profunda catequese batismal. Neste tempo em que os catecúmenos (adultos ainda não batizados) ingressam na última etapa de sua preparação para a celebração dos sacramentos da iniciação cristã – Batismo, Eucaristia e Crisma – todos os católicos são chamados a um revigoramento da fé, que terá o seu auge na solene renovação das promessas batismais durante a Grande Vigília da Ressurreição do Senhor.

Para despertar em nós o desejo de mergulhar intensamente na graça santificante do batismo, a Igreja nos porpõe, neste primeiro domingo da quaresma, a narração do dilúvio dos tempos de Noé (Gn 9, 8-15), cujas águas são prefiguração das fontes batismais que jorram vida eterna. Ao sepultar o pecado debaixo das águas do dilúvio, Deus estabelece com a humanidade uma aliança, simbolizada no arco-íris estendido no céu. Pela água que jorra do lado aberto de Cristo, a força sacramental do batismo sepulta de forma definitiva o pecado e a morte, estabelecendo-se com o homem uma nova aliança, não mais simbolizada por uma figura no céu, mas concretizada por um sinal cravado na terra: a Santíssima Cruz.

De fato, há uma ligação profunda entre a madeira utilizada por Noé para construir a arca que salvou sua família e este novo madeiro, mais sublime e perfeito, no qual o Filho de Deus foi crucificado para abrir as portas da salvação a toda a humanidade. É por isso que São Pedro nos esclarece, na segunda leitura da liturgia deste domingo, que “à arca corresponde o batismo, que hoje é a vossa salvação”( 1Pd 3, 21).

Unidos a Cristo crucificado, a arca de salvação da nova aliança, ingressamos como Igreja no deserto quaresmal. O Evangelho proclamado neste domingo revela que Jesus “ficou no deserto durante quarenta dias, e aí foi tentado por Satanás” (Mc 1,13). A adesão à fé de Cristo e ao batismo que professamos exige, antes de tudo, renúncia. Nos ritos batismais, antes de professar a fé católica, quem deseja se tornar cristão deve renunciar à Satanas, às suas obras e às suas seduções. Esta renúncia, marcada por um desejo de verdadeira conversão, nos coloca diante da difícil realidade da tentação, ou seja, do apelo que as nossas más inclinações infligem à carne na tentativa de nos fazer desistir do propósito da santidade que assumimos no batismo. Para que não nos deixemos levar pelas tentações,  a mensagem do Evangelho de hoje é: Coragem! Jesus venceu as tentações e nós venceremos com Ele.

Que nesta caminhada quaresmal, com os olhos fixos em Jesus, encontremos a força necessária para vencer as tentações e abandonarmos os nossos maus hábitos. Lavados de misericórdia pelo seu sangue derramado na cruz, possamos chegar revestidos de santidade às solenidades pascais, quando renovaremos, com alegria, o nosso batismo.

Virgem Santíssima, Mãe de Deus, socorrei-nos hoje e sempre.